A aplicação do Direito do Consumidor deve levar em consideração o fato deste ser tipicamente um direito difuso e, portanto, voltado à construção da cidadania.
O que se percebe de uma forma muito constante é o reducionismo do cidadão em mero consumidor, podendo ser analisado apenas no momento da relação consumerista, numa visão que destrói inclusive a pluralidade humana. O caminho deve ser exatamente o oposto.
Deve-se fazer é uma construção cidadã do consumidor, isto é, toda uma teoria em que o consumidor se torne cidadão em sua luta diária na tensão que de fato existe, que é o conflito capital-trabalho, presente efetivamente no fenômeno de consumo, em que se tem o capitalista buscando a obtenção do lucro e o consumidor obter o mínimo de satisfação.
No momento em que logo no artigo 1º do Código de Defesa do Consumidor (CDC) se coloca que deverá obedecer a uma "ordem pública e interesse social", abstrai-se que deve ocorrer uma permanente articulação entre Estado e sociedade para a construção do Direito do Consumidor. Ora, tal articulação é característica eminente do Estado Democrático de Direito. A partir disso, deve-se entender que toda a interpretação da norma consumerista deve seguir esta lógica, dentro de uma efetivação de cidadania.
Nessa lógica começa-se a perceber uma questão chave. Efetivamente, o simples conhecimento do CDC não se faz suficiente na construção de uma cidadania plena. Até porque uma pessoa conhecedora de seus direitos não estará totalmente imune de um problema muito maior que se coloca: O bem consumir.
Aqui se destacam dois aspectos básicos: A análise do consumismo e a busca do consumo sustentável.
Sobre o primeiro ponto, percebe-se na Publicidade um imenso jogo de sedução sobre os consumidores e consumidoras. Algo que seria natural, pois é da essência da Publicidade, se não fosse o apelo sistemático ao consumir. Através de publicidade enganosa (aquela que induz o consumidor ao erro, seja por uma informação mentirosa ou a ausência de uma informação essencial) ou da abusiva (aquela que sugere ao consumidor uma postura preconceituosa, extremamente erotizada, violenta, ou aproveita-se da inocência ou crença do consumidor, dentre outros exemplos) essa tem avançado sobre cada um de nós com mensagens cada vez mais ágeis e agressivas, impondo um comportamento e um padrão de sociedade em tudo começa a ser mais e mais descartável. Financeiras, bancos e cartões de crédito facilitam a obtenção de recursos aos consumidores cada vez mais impondo taxas astronômicas de juros aos mesmos. E o pior: Sempre nos esquecemos de que o Consumismo apresenta-se também como doença e, como tal, deve ser tratada e corrigida, inclusive se coibindo os mecanismos que a agravam.
Falando de consumo sustentável obviamente tem conexão direta com o consumismo. Num mundo em que os recursos naturais vão se tornando escassos, a economia e o racionamento no uso dos mesmos é fundamental. Um planejamento governamental e da sociedade em torno de uma postura mais racional do uso de serviços básicos como transportes, água, esgoto e energia sem dúvida trarão a médio e longo prazo impacto na vida de todos, inclusive retardando possíveis impactos econômicos que afetem em muito os consumidores.
Portanto, esses pontos se fazem importantes numa consecução permanente da cidadania plena, que tem na defesa do consumidor importante aliado.